segunda-feira, 29 de março de 2010

A Casa Feita de Doces - História do 5º B


A Casa Feita de Doces



Era uma vez um menino alegre e bem-disposto chamado Pedro que só tinha um único desgosto na vida: morar numa cave sem janelas. Como ele gostava de ter uma casa alta, tão alta de onde pudesse ver o mundo! 
Durante o dia, enquanto estava na escola, todo ele era sorrisos para os colegas e professores e facilmente lhe arrancavam uma gargalhada. Quando alguém deixava cair qualquer coisa, o Pedro era o primeiro a rir-se com vontade; quando um amigo lhe contava uma anedota, chegava a atirar--se ao chão de tanto rir e, às vezes, tinham de mandá-lo parar!   
                                                                                         
O pior era quando chegava a casa. Nem parecia o mesmo Pedro! Como, por mais que arregalasse os olhos, não conseguia ver um único raio de sol para além daquelas paredes grossas, ficava triste e fechava-se no quarto, de onde só saía para comer ou fazer chichi, quando tinha mesmo de ser. Aqui para nós que ninguém nos ouve, às vezes até fazia uma pinguinha nas calças, de tanto que hesitava sair do seu quarto sem janelas para, através de um corredor sem janelas, fazer finalmente as suas necessidades numa casa-de-banho escura e também ela, claro está, sem janelas.
Escusado será dizer que as contas da luz naquela casa eram enormes, astronómicas e que, quando todos os interruptores estavam ligados, aquilo parecia uma nave espacial.

Mas um dia – o melhor será dizer uma noite - tudo se alterou. Depois de adormecer profundamente, o Pedro teve um sonho que iria mudar a sua vida para sempre. Um sonho longo, longo, tão longo… que ele ainda hoje está para perceber se aconteceu mesmo na vida real ou se foi só fruto da sua imaginação.
E então foi assim: apareceu-lhe à cabeceira um duende simpático que o convidou para ir dar um passeio - imaginem! - numa casa voadora puxada por um helicóptero! Subiram alto, muito alto, sobrevoaram o país inteiro, depois a Europa, a Ásia, a África, a Oceânia… Quase atropelaram uma dúzia de gaivotas e tiveram de esquivar-se às asas dos aviões mais compridos!
Empoleirado numa janela pequenina, aberta de par em par, o Pedro sentia o vento e as nuvens a acariciarem-lhe as bochechas e não parava de gritar: “Iuuuuupi! Iuuuupi! Desta casa consigo ver o Mundo inteiro!” E assim foi durante horas, dias, meses – ele não conseguiu perceber quantos -, até que o combustível acabou e o duende teve de fazer uma aterragem forçada numa ilha deserta, sem endereço conhecido.
- Isto vai demorar um certo tempo, até eu conseguir fabricar uma gasolina biológica, à base de resina e leite de coco - informou o duende.
E como o que tem de ser tem muita força, o Pedro teve de se habituar à ideia de comer todos os legumes e frutos que conseguisse encontrar para manter a barriga cheia, porque não lhe pareceu haver para ali nenhum frango desprevenido nem nenhum bife do lombo com pernas a passear na areia. Passou noites e noites seguidas debaixo de folhas de palmeira e era nessas alturas que as saudades de casa mais apertavam. “Este sonho é giro, mas será que não acaba?”, perguntava-se. De vez em quando beliscava-se, para ver se acordava, mas não dava resultado. Só a lua, grande como nunca antes a tinha visto, lhe servia de consolo. “Como é brilhante! Da minha casa, eu não via nada disto!”, pensava ele.
E de repente, entre um pensamento e outro…
-Tá-tá-rá-rá!
O duende apareceu, com uma corneta maior do que ele, a dar a boa nova:
-Vamos voltar para casa!
E foi depois de mais um “tá-tá-rá-rá” que o Pedro, estremunhado e espantado, percebeu:
- Olha, estou outra vez na minha cama!
E estava mesmo. Mas não estava sozinho no quarto. Acocorados aos seus pés, como dois gatinhos, os seus pais pareciam estar a ver o Menino Jesus!
-Ó filho, nunca mais acordavas, tivemos tantas saudades! Anda ver a surpresa que preparámos para ti.
Puxaram-no por um braço e, num piscar de olhos, estava ele na sala de jantar que não parecia a mesma, pois tinha doces que chegavam ao tecto: chocolates, bombons, gomas, rebuçados acumulavam-se por cima da televisão, da mesa, dos tapetes…
- Comprámos uma caixa por dia, para te oferecer quando voltasses do teu sono! - explicou o pai.
E o Pedro beliscou-se de novo porque, afinal, talvez ainda não tivesse acordado. Mas não resultou. E tudo parecia tão real! Os pais tinham os mesmos sorrisos, o seu pijama era o mesmo, a sua idade era a mesma e a casa continuava a ser uma cave sem janelas… A única diferença era que agora era muito mais doce!
-É sábado, o que é que pensas fazer hoje? - perguntaram-lhe em coro. E ele não hesitou. Telefonou a todos os seus amigos - que pareceram não estranhar a sua ausência como se o tivessem visto ontem - e pediu-lhes para se encontrarem no jardim e trazerem pás, pregos, escadotes e picaretas.
- Vamos construir uma casa feita de doces no jardim! -ordenou.
E dia após dia, goma sobre goma, sombrinha de chocolate sobre sombrinha de chocolate, cresceu a casa mais alta da vila, com muitas paredes doces às quais os construtores, quando a fome apertava, tiravam um bocadinho. A melhor notícia? Do andar mais alto - diz quem lá entrou - via-se mesmo o Mundo, e todas as tardes, depois da escola, o Pedro e os amigos lá se reuniam para confirmá-lo. Os pais só o proibiram de dormir lá dentro porque os colchões de gelatina abanam muito e ele não conseguia ter um sono descansado.
À noite, de novo na cama da sua casa na cave sem janelas, o Pedro voltava a beliscar-se, sem resultado. E a verdade é que, sonho ou não, a casa feita de doces continua no seu jardim até hoje, sem nunca cair nem derreter. E todos dizem que é muito saborosa!
Autores: A turma do 5º B.

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