quinta-feira, 28 de junho de 2012

O Auto da Barca do Inferno

Uma leitura de Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, pelo 9º A

clip_image002 O Auto da Barca do Inferno é um texto dramático, de Gil Vicente, autor do séc. XVI (1518), que tem uma feição alegórica, cómica e moralizadora.

A ação decorre num cais, onde se encontram duas barcas, a do Inferno e a do Paraíso, com os respetivos arrais, o Diabo e o Anjo. Nesta espécie de tribunal, vai decorrer o julgamento das almas após a morte, sendo que os vários protagonistas, que se apresentam gradualmente, estão convencidos de que merecem o céu, muito embora tenham cometido delitos na vida terrena, como muito bem denunciam, e condenam, os juízes supremos.

As personagens em julgamento são portadoras de símbolos que as identificam e ao grupo, tipos sociais ou socioprofissionais da época vicentina, denunciando os seus vícios e defeitos, como: a arrogância e vaidade do Fidalgo D. Anrique; o materialismo do Onzeneiro, o banqueiro corrupto que explora a juro excessivo; a falsidade religiosa do Sapateiro, que julga estar ilibado dos roubos por ter cumprido todos os preceitos religiosos; a paradoxal amancebia do Frade folgazão; a prática do lenocínio e da prostituição da alcoviteira Brísida Vaz; o fanatismo, intolerância e materialismo do Judeu que profana sepulturas católicas; a injustiça humana, a venalidade e a parcialidade do Corregedor e do Procurador, também representada através de um Enforcado que se deixou manobrar. Todos condenados a embarcar para o Inferno, excetuando Joane, o Parvo, que não errou por malícia, e os Cavaleiros que morreram a lutar pela fé católica, daí que entrem triunfais, entoando um cântico glorificador e moralizador.

Gil Vicente tinha consciência de que a diversão poderia estar ao serviço da crítica e da moralização, daí que tenha concretizado bem o ditado latino “Ridendo, castigat mores.” (A rir castigam-se ou corrigem-se os costumes).0

Cenografia da professora Cláudia Costa